quinta-feira, 18 de julho de 2013

DAVID LISBÔA


Se fosse vivo, amanhã dia 19 de julho meu avô paterno, DAVID LISBÔA  completaria 104 anos. Há quase 16 anos (setembro / 1997) Deus interrompeu sua existência terrena e seu sofrimento, e com certeza ele hoje está ajudando a cuidar do coral celeste!!! David Lisbôa, "seu" David, Vovô David, filho do Rev. Pedro Lisbôa e Henriqueta Lisbôa sempre foi exemplo de bondade, paciência (uma de suas principais qualidades), humildade, amor, e consagração a causa do Mestre, especialmente na área da música.
 Quer ao órgão ou ao violino, na regência segura do coral, ou mesmo na orientação do canto congregacional sempre esteve lá David Lisbôa, deixando sua marca, ensinando, conduzindo, nunca permitindo que se cantasse ou tocasse em desacordo com a partitura, de forma relaxada ou desafinada. Era muito rigoroso nos testes que fazia nos candidatos a coristas!!!! Quantos não foram recusados!!! Viveu praticamente em duas cidades: JACAREÍ, no Vale do Paraíba onde se casou com Benedita de Alvarenga Lisbôa e nasceram os filhos Pedro, Josias, Rachel, David Júnior e Lóide Maria. Nessa época frequentava a Igreja Cristã Evangélica, que durante um período foi pastoreada por seu pai. Trabalhava como alfaiate. As dificuldades aumentaram muito no pós-guerra, ficava cada vez mais difícil prover o sustento para a família.   
[Henriqueta Lisbôa]
[Pedro Lisbôa]


E, SANTO ANDRÉ, no ABC Paulista, para onde mudou-se no final da década de 40 do século passado, indo residir inicialmente no bairro de Camilópolis na rua Miquelina, mais tarde muda-se para bairro de Santa Terezinha, um dos primeiros a ocupar as "CASAS POPULARES". Em Santo André nasce o caçula, Jairo. Participou ativa e entusiasticamente da Igreja Evangélica Congregacional de Camilópolis, exercendo por longos anos as funções de Presbítero, Professor da Escola Dominical, Organista e Regente do Coral. Em Santo André viu os filhos crescerem, se firmarem na vida, casarem-se; viu a chegada dos netos e dos primeiro bisnetos.
 
Tinha um carinho muito grande com os filhos, e evidentemente com os netos. Recebia a todos com muita alegria. Sempre tinha algo especial a nos oferecer, um chocolate, uma bala, um salgadinho, etc, que trazia da cooperativa onde trabalhou por longos anos, até conseguir a pequena aposentadoria. Lembro-me com saudades dos tempos em que eu pequeno, após a aula da Escola Dominical, sentava-me ao seu lado ao órgão, lugar muitas vezes disputado com os outros netos! Era bom vê-lo alegremente regendo o coral da Igreja de Camilópolis. Mesmo já se passando 16 anos de sua partida, sua presença é muito real em nossa vida, e creio que sempre será. A música e sua influência foram tão grandes na vida de sua família que por ocasião de seu falecimento formou-se um grande coral, composto pelos filhos, netos, bisnetos, etc, que tristes pela separação, mas gratos por sua vida, louvaram Aquele que lhes legara o esposo, pai, avô, David Lisbôa!!!


[Participando da cerimônia de noiva do neto "Robertinho"]


[Participando de minha colação de grau - Ciências Jurídicas e Sociais - Março de 1986 em Taubaté]


Quero encerrar essa singela homenagem transcrevendo o poema postado por meu tio David Lisbôa Júnior que despertou-me a escrever este texto.

Dezenove de Julho – Papai, um Poema pra Você.


“ Potéco cajimbuti “
Era assim que me chamavas, papai Para o aconchego do teu colo
Para a marcha pela casa. Ao som da bandinha que saía dos teus lábios :
“ tá – ta, pititá – tá – tá ..."
em alegre sonoplastia.

Para a sela do cavalinho, tua perna esguia, 
Que fazia : “ pacatau – pacatau – pacatau ... “

Para o alto do teu ombro erguido, pelas ruas da cidade
Às compras de Natal.
  
Pelas ruas de Suzano, numa noite escura :Não sabia por que ia pra casa do Zé Cardoso.
Mas lá do alto, posição segura  Assistia - que gostoso...
Debruçado em tuas costas- Ao deslizar do calçamento que corria
Veloz sob teus seguros passos

E à nossa sombra que crescia e sumia, nos rodeava e girava 
Na dança que fazia quando um poste de luz passava.
E, no trem, quando, segurado por teus braços
Eu admirava, extasiado, os fios do telégrafo
Que subiam e desciam, iam pra longe e voltavam
E só sumiam quando a estação chegava.

“Ora, faça idéia ! ...” Era assim que tu ralhavas, papai,
Quando eu teimava em mexer  Nos teus gizes coloridos de alfaiate.

... Que ternos caprichados! Que mangas bem pregadas! Que perfeito caimento! ...
Quantas noites entre linhas e entretelas. Dedal dourado, alinhavando meu futuro, garantindo meu sustento.

“ Deus te abençoe! “ Era assim que tu me davas, papai
A tranqüilidade para o sono. E, de joelhos, à beira da cama
Infalivelmente todas as noites. O exemplo de fé.

Ô nhá Carola, Que cocê qué ?
Ovi dizê cocê qué sê minha muié ...
Quem foi que disse ? Eu discunfiêi ... “

Era assim que tu divertias, papai. Aquele povo querido que, nas sociabilidades, se reunia
... E ria, ria que ria ... . A nossa Lóide Maria chorava, ficava brava ...
Eu, não; até me orgulhava de ter um pai talentoso ...Que engraçado tu eras :
“ Não quero outra vida, pescando no Rio de Jereré ... “

Do Seo Guilherme a sanfona, Mais ria do que tocava ...
É assim que me recordo hoje, Dos tempos em que eu crescia.

Cresci. Hoje sou pai. Mas não sei se saberia
Fazer para os meus filhos, que crescem, Tudo o que me fazias.
Tudo o que fizeste.

Acalenta-me um grande orgulho: Habilidoso alfaiate, músico sensível
No violino ou no harmônio, Ou à frente do coral
Meigo, compreensivo e paciente.
Batuta de prata e ébano
Na mão do Supremo Regente.

Teu filho, Davizinho.
Em Dezenove de Julho


MCMXCIV

[Bodas de Ouro - abril/ 1982 - Camilópolis]



[Taubaté - início - década de 80]





UMA HERANÇA INESTIMÁVEL - 65 ANOS DE ORGANIZAÇÃO DA IGREJA EVANGÉLICA CONGREGACIONAL DE CAMILÓPOLIS

[ TEMPLO, QUE SUCEDEU O PRIMEIRO SALÃO DE CULTOS ]

O dia 18 de julho marca um momento significativo para os evangélicos de Santo André, a União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil, e especialmente para todos quantos tem algum tipo de ligação com a Igreja Evangélica Congregacional de Camilópolis. Pois, neste ano de 2013 celebram-se os 65 anos de organização dessa igreja. Tive o grande privilégio de frequentá-la durante toda minha infância e início da adolescência. Meus avós e pais participaram de sua fundação e seu desenvolvimento. Através de dedicados servos de Deus não apenas ouvi a mensagem salvadora do Evangelho, sendo levado a crer em Cristo pela obra gloriosa do Espírito Santo, mas também fui ensinado acerca das doutrinas contidas na Bíblia, a honrar a Deus com minha vida, a cultuá-lo, a testemunhar de seus gloriosos feitos, a preservar o universo, a ser grato, a honrar meus pais, a amar e respeitar as pessoas. A Igreja Evangélica Congregacional de Camilópolis é herdeira do primeiro trabalho evangélico a ser organizado no Brasil, que deu origem a IGREJA EVANGÉLICA FLUMINENSE, sediada na cidade do Rio de Janeiro, na rua Camerino nº 102, organizada em 11 de julho de 1858, fruto do  trabalho missionário desenvolvido pelo Dr. Rev. Robert Reid Kalley e sua esposa Sarah Poulton Kalley. 

[Rev. Dr. Robert Reid Kalley]

O Rev. Robert Reid Kalley (08.09.1809 - 17.01.1888) foi médico e pastor escocês. Desenvolveu profícuo trabalho missionário em nosso País, nos tempos do Império, durante 21 anos, ao lado de sua segunda esposa, Sarah Poulton Kalley. Chegaram em nossa Pátria no dia 10 de maio de 1855, iniciando no dia 19 de agosto do mesmo ano, em Petrópolis, onde foram residir, as bases da primeira Escola Dominical do Brasil.  Nessa oportunidade  Dª. Sarah Kalley contou a história de Jonas a cinco crianças. Essa foi a primeira Escola Dominical em solo brasileiro, cujo funcionamento não foi interrompido. A data é considerada a do início do trabalho evangélico no Brasil, em língua portuguesa de caráter permanente. Sarah Poulton Kalley (1825-1907), além de todo o apoio dado ao esposo, destacou-se especialmente no trabalho missionário realizado nossa Pátria, fundando a primeira união auxiliadora feminina em 11.07.1871 e participando da organização do primeiro hinário evangélico brasileiro, o SALMOS E HINOS, sendo que cerca de 200 hinos são de sua autoria. O trabalho missionário do casal Kalley contribuiu para o surgimento das Igrejas Evangélicas Fluminense e Pernambucana, além de expandir o evangelho para diversas regiões do Brasil, e deu origem a União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil.

[Sarah Poulton Kalley]

Com o passar do tempo, através do trabalho dedicado de leigos e pastores, os frutos das atividades missionárias iniciadas pelo casal Kalley, mediante a Graça de Deus, começam a atingir variadas regiões do pais. E, por fim chegam a Camilópolis, uma pequena vila em formação, do hoje bem desenvolvido e importante município de Santo André, no estado de São Paulo. O bairro de Camilópolis era conhecido com "vila sem reboque", porque as casas não eram revestidas por fora, as ruas eram sem calçamento, não havia água encanada. No início da década de 40 do século 20 chega a esse bairro, oriundo da cidade Santos, o Presbítero Juvenal Augusto Soares Feliciano, acompanhado de sua esposa, Aurora, e dos filhos Joel, Rute, Àurea ("Didi"), Gessy, Juvenal ("Dudu"), Sulamita ("Sula"), Janete, Valter, Roberto e Heraldo; foram residir na rua do Centro nº 721. Juvenal era  funcionário da prefeitura, e além de outros melhoramentos trazidos para o bairro, graças a sua iniciativa, destaca-se a construção do cemitério de Camilópolis. Distante de sua igreja de origem, e sem nenhuma outra que pudesse frequentar, Juvenal, crente fiel e zeloso, nunca deixou de realizar em sua residência, com a participação de sua numerosa família reuniões de estudo bíblico e adoração ao Senhor. Mas, ele tinha um coração apaixonado pelas almas perdidas, e desejava transmitir aos moradores daquele bairro a mensagem do evangelho de Cristo Jesus. 




[Juvenal e Aurora Feliciano]


Passou a convidar a vizinhança para participar dos cultos. Em frente a sua casa residia uma família oriunda da cidade de Rio Claro. A família Oliveira. Guilherme Alves de Oliveira era o dono da casa. Homem simples, entusiasmado, de alegria e gargalhadas contagiantes; sanfoneiro, promovia bailes em sua casa, ao mesmo tempo em que Juvenal realizava os cultos do outro lado da rua. Guilherme animava os bailes e festanças da região com sua alegria e sua sanfona. Deus tinha um plano grandioso para aquele bairro, e usou Juvenal Feliciano para transmitir o Evangelho a Guilherme Oliveira, começa a nascer a Igreja Evangélica Congregacional de Camilópolis. A família de Guilherme também era numerosa. Sua esposa Tereza Alves de Oliveira, a "Tata". Os filhos: Rubens, Julio, Jovita, "Guilhermino", Anatildes, a "Nenê", Dilce a "Tica" e Moacir. Um dia Juvenal resolveu convidar Guilherme e sua família para participar da Escola Dominical; Guilherme aceitou com a condição de Juvenal participar de um dos seus bailes, o que nunca aconteceu. Durante aquele encontro Guilherme, ouvindo os hinos, saiu em busca de sua sanfona para acompanhar aqueles crentes, que louvavam a Deus com tanto entusiasmo. A partir daquele dia acabaram-se os bailes, Guilherme converteu-se a Cristo, e ele e aquela sanfona, apelidada carinhosamente  de "sanfona convertida", porque passou a ser usada exclusivamente para o louvor do nome de Deus, passaram a estar presentes em todas as atividades daquele grupo, que dia a dia ia crescendo e formando a Igreja Evangélica Congregacional de Camilópolis.

[Família Feliciano em frente a residência na rua do centro nº 721,  bem ao centro, sentado destaca-se o pioneiro do trabalho evangelístico em Camilópolis e patriarca da família Feliciano: Juvenal ( de gravata borboleta),
ao seu lado esquerdo, sua esposa Aurora, assentadas, ladeando o casal filhas e noras,
 atrás de pé, filhos e genros, crianças assentadas no chão, a primeira geração de netos]


[Família Oliveira: ao centro, assentado com a sanfona, o patriarca "seu" Guilherme]
O dia 18 de julho de 1948 foi de grande júbilo, pois, nele foi organizada pelas autoridades eclesiásticas competentes a Igreja Evangélica Congregacional de Camilópolis, já tendo como sede o seu atual endereço, Rua Santa Izabel nº 460 - Camilópolis, uma travessa da Rua do Centro, e bem próximo ao local onde os primeiros cultos foram realizados na residência da família Feliciano, em frente a residência da família Oliveira.